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Bets já movimentam R$ 100 bilhões no Brasil e empregam de 150 a 200 mil pessoas

A indústria dos palpites esportivos online tem um ecossistema estabelecido que movimenta setores como publicidade, financeiro, tecnologia, recursos humanos, contabilidade, jurídico, entre outros, que empregam de 150 mil a 200 mil pessoas direta e indiretamente. As estimativas do mercado são de R$ 100 bilhões por ano que os brasileiros apostam. O valor é quase 1% do PIB registrado em 2023, de R$ 10,9 trilhões.

O BRAZIL ECONOMY conversou com dezenas de atores desse setor para colocar luz na representatividade das bets na economia nacional. Defenderam a regulamentação que está em curso, que promove a arrecadação de tributos e regras para as empresas que pretendem atuar no país. E expuseram as vantagens desse mercado, diante de algumas críticas que recebem pontualmente.

Um dos apontamentos dos mais céticos é sobre a influência que as bets poderiam exercer sobre o poder de compra do brasileiro no varejo, em especial. Mas os dados do IBGE apontam que essa não é uma verdade absoluta.

De acordo com o instituto, em dezembro de 2024 o volume de vendas no comércio varejista ampliado – que inclui veículos, motos, partes e peças; material de construção; e atacado especializado em produtos alimentícios, bebidas e fumo –, cresceu 1,4% na comparação com o mesmo mês de 2023 e no acumulado do ano, a alta foi de 4,1%.

Sem muitos estudos consolidados e abertos no Brasil sobre as bets, o BRAZIL ECONOMY teve acesso a uma sondagem da empresa H2 Gambling Capital, líder em dados de mercado, inteligência e consultoria do setor de jogos, estimou uma previsão de GGR (Gross Gaming Revenue, na sigla em inglês) na América Latina de US$ 23 bilhões em 2024, um aumento de 38% em relação aos US$ 17 bilhões gerados em 2019.

O GGR é diferente do volume total de apostas. Trata-se do faturamento com as apostas menos os prêmios pagos aos vencedores e o Imposto de Renda descontado dos prêmios. A estimativa da H2 leva em consideração casas de jogos físicas e as apostas online. Os cassinos registraram estabilidade na movimentação nos últimos cinco anos. Enquanto o digital aumentou 220% no período.

A consultoria estimou que o Brasil responde por 57% do GGR total de apostas e jogos online da América Latina. Na segunda posição vem a Colômbia, com participação perto de 10%. Por aqui, o GGR deve alcançar aproximadamente R$ 30 bilhões em 2025 e R$ 51 bilhões em 2029, para um mercado nacional que possui 15,6 milhões de usuários ativos. Muito em linha com que alguns bancos brasileiros já estão medindo. Um deles estimou R$ 3,5 bilhões de GGR em janeiro deste ano.

Análises de especialistas

Para Marcos Sabiá, CEO do galera.bet, o Brasil como a oitava maior economia do mundo, que tem uma relação histórica com jogos, combinado com um sistema financeiro que propiciou meios de pagamento rápidos e seguros e a chegada de gigantes do setor que já atuam em países desenvolvidos e regulados, trazendo sua expertise e tecnologia, possibilitaram o estabelecimento de uma indústria relevante no entretenimento.

“Destaco três setores: meios de pagamento, tecnologia e marketing, em especial o mercado publicitário e de patrocínios. Sem dúvida, o sistema financeiro do Brasil, que conta com instituições sólidas e tecnologia pujante em numerosas instituições de pagamento, além de meios de pagamento avançados como o Pix, propiciou o florescimento de um mercado saudável e seguro nos jogos online”, avaliou o executivo.

Ele projeta o desenvolvimento do setor neste ano. “Sem dúvida, 2025 ainda será um ano de crescimento do mercado de apostas”.

Marco Tulio, CEO da Ana Gaming, ressaltou que, com a regulamentação sancionada no final de 2023 e a estruturação do novo cenário regulatório em 2024, espera-se que os números de 2025 reflitam um novo patamar para o setor, com maior formalização, aumento da arrecadação fiscal e um impacto econômico ainda mais expressivo.

“As apostas esportivas impulsionam uma ampla cadeia de fornecedores e serviços, abrangendo áreas como patrocínios, publicidade, desenvolvimento de software, atendimento ao cliente, análise de dados, eventos, confecção de brindes para ativações e entre outras áreas”, enumerou.

“Além disso, o impacto no ecossistema esportivo é significativo, já que as casas de apostas se tornaram grandes patrocinadoras de clubes, ligas e atletas, fomentando o desenvolvimento do esporte no Brasil”, complementou.

Além disso, fatores como o avanço da digitalização, a popularização dos pagamentos instantâneos (como o Pix) e a crescente aceitação do mobile gaming facilitaram o acesso às plataformas de apostas.

Pilares

Fellipe Fraga, CBO (chief bussiness officer) da EstrelaBet, que possui dois escritórios, um em São Paulo e outro em Belo Horizonte, emprega cerca de 320 pessoas. Ele apontou um impacto significativo no setor jurídico e de compliance, que se tornaram pilares essenciais para garantir a operação dentro das novas normas regulatórias.

“Com a regulamentação do mercado brasileiro, as operadoras passaram a atuar em um ambiente mais seguro e estruturado, exigindo monitoramento contínuo contra fraudes e manipulação esportiva”, disse Fraga, destacando investimentos em Inteligência Artificial e automação para otimizar atendimento, ofertas e retenção, além de suporte mais eficiente e preditivo, oferecer uma experiência mais fluída e segura.

“A EstrelaBet reforça esse compromisso ao manter parcerias com empresas especializadas em integridade esportiva, como a Genius Sports e a Sportradar, que fornecem tecnologia avançada para detectar padrões irregulares em apostas, garantindo maior transparência e segurança para o mercado”, ressaltou, ao citar ainda que a evolução das apostas esportivas no Brasil não apenas fortalece o setor em si, mas também impulsiona inovação, novas tecnologias e parcerias estratégicas em áreas complementares.

José Francisco Manssur, sócio do escritório CSMV Advogados, atuou em 2023 como assessor especial da Secretaria Executiva do Ministério da Fazenda. Esteve à frente da elaboração das regras para o setor de apostas por quota fixa no Brasil.

“De forma regulamentada, enxergamos uma série de alavancas na economia proporcionadas pelo setor. Além do mais, há algo que considero bastante relevante, que é a injeção de recursos que podem chegar a R$ 2 bilhões na atividade esportiva de fato”, salientou.

Manssur pontuou que antes da entrada das bets no cenário de patrocínios esportivos, o esporte era muito dependente de estatais, como a Caixa Econômica Federal, a Petrobras, a Eletrobras e outras empresas públicas.

“Hoje a gente observa esse movimento para o desenvolvimento e fomento do esporte como um todo. E não estou falando só dos grandes clubes de futebol masculino. Também há aportes das bets em categorias de base, futebol feminino e modalidades olímpicas incentivadas financeiramente pelas empresas de apostas online”, enfatizou.

Bernardo Freire, consultor jurídico da Associação Nacional de Jogos e Loterias (ANJL) e sócio da empresa Betlaw, analisou que a regulamentação das bets e o desenvolvimento do setor deve acarretar outros avanços. Ele citou a possibilidade de os cassinos avançarem no país, a partir da organização das apostas online.

“Vejo o sucesso do jogo eletrônico como uma possibilidade de mostrar que não há nada de errado em termos cassino. E, assim como as bets, pode impulsionar um ecossistema que traz consigo o turismo, a aviação, a gastronomia, a hotelaria… Diversos setores que se beneficiam com isso”, defendeu.

Fonte: BRAZIL ECONOMY

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